segunda-feira, 25 de outubro de 2010

             

           Parando pra pensar, que imortalidade que nada. A vida da gente é já longa demais mesmo durando uns setenta, oitenta anos.
           Podia ser como a do gato, do cachorro ou até dum peixe. Nunca da pulga, que é muito breve, ou da tartaruga, longuíssima.
           Doze ou quinze anos basta pra se viver tudo o que é preciso. O resto é perfumaria e a gente passa se ralando com coisas pro futuro e que nunca vai usar.
           Isso é um crime, já que a adolescência demora demais pra chegar. E vai logo embora. 
           Eu mesmo, na ponta do lápis, nessa adolescência – que é quando estava no auge da virilidade - gastei bem umas duas mil horas decorando fórmulas de química, física e matemática que nunca usarei. Podia ter gasto este tempo namorando, teria sido mais produtivo e prazeroso.
           Isto sem dizer das horas trabalhando no escritório duma metalúrgica – dos 15 aos 22 – e mais outros tantos anos como contas a pagar numa multinacional e numa empreiteira. Foi bem uma década me matando numa rotina estúpida, aguentando chefes prepotentes, colegas de trabalho burrocratas, pra enriquecer os patrões, cujos filhos, da minha idade, curtiam a vida na praia.
           Quando ficamos adultos e podíamos parar pra curtir a vida sossegados, a regra diz que temos que nos preparar para a velhice. Como? Estudando mais e trabalhando demais. Já disse Dori Caymi na belíssima letra de Evangelio:

E, um dia quando a vida melhora, 
nossa mocidade onde andará?
           
           O Policarpo, meu gato, por exemplo, não pensa em muita coisa. A ração tá garantida porque eu trabalho pra isso. Se não tiver ração, também, sua preocupação será, pura e simplesmente, a de correr atrás dum ratão bem gordo que lhe aplaque a fome. E isso é fácil numa cidade como São Paulo que tem mais ratazanas que gente. 
            Depois, o bichano só precisa pensar na Clementina, a gata assanhada da vizinha.
            Tá fechado! Na próxima geração quero nascer gato ou cachorro.

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