quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sofisticação do cotidiano



        Domingo, bati um longo papo com um grande amigo que mora na Bahia e trabalha como engenheiro na Ford de lá, o Heitor Pinheiro de Godoy. E ele contou um causo que retrata bem o quanto estão sofisticando nosso cotidiano em nome de todo tipo de valores:
        Depois de tomar um sorvete no escritório, ele se dirige até onde estão os latões de lixo para depositar o papel e o palito que sobraram.
        Aí surge o grande problema: Em cada um dos vários latões coloridos, e estrategicamente instalados a frente da sala de sua gerente, há uma descrição pormenorizada do tipo de resíduo que deveria ser atirado ali.
        - Fui lendo as instruções, uma por uma. Num dos latões estava escrito: carbono, celofane, parafinados, plastificados e metalizados. No outro: isopor, espuma, acrílico e adesivos. E assim por diante.
         No final, mesmo estando terminando o mestrado em engenharia, meu amigo não consegue chegar a uma conclusão mais precisa sobre a classe de seu resíduo, logo, não sabe em qual dos latões deve depositar o que sobrou do sorvete que acaba de consumir.
         Com medo de cometer uma gafe ecológica, já que a gerente o observa de sua mesa, Heitor simplesmente guarda palito e papel no bolso e vai embora amaldiçoando a sofisticação do nosso cotidiano. E com uma baita saudade do tempo em que lixo era só lixo, e a gente o atirava fora sem ter que consultar um manual para classificar, quimicamente, as sobras do nosso consumo diário.     

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